sábado, 24 de março de 2012

Insónia


Completamente escuro
Ouve-se uma sirene
A mulher acende o candeeiro.
Estão ambos (H e M) deitados na cama, a mulher acendeu o candeeiro do lado do Homem e encontra-se debruçada sobre ele que está de costas.
H – São horas?
M – Não. Ainda não.
H – Dorme.
M – Não consigo.
H – Queres falar? (vira-se para ela)
M – Não, deixa… É tarde. Dorme.
(o Homem vira-se, ela apaga a luz)
Pausa
M- Miguel?
H – Sim?
M – Estás a ouvir?
H- O quê? (acende a luz)
M – Qualquer coisa na rua. Não tenho a certeza. Se calhar é um cão. Não ouviste nada?
Homem senta-se. Pausa
H – Queres que vá ver?
M – Tenho a certeza que ouvi um carro.
Homem levanta-se, vai até à janela e abre-a
H – Não vejo nada.
M – Sim, se calhar não é nada. Anda, vem aqui para ao pé de mim.
Ele fecha a janela e deita-se.
M – Tens os pé frios.
H – Está frio lá fora.
Ela apaga a luz e volta a acender.
M – Podemos falar um bocadinho? Tenho medo. Eles, eles… E se eles…?
H – (abraça-a) Não tenhas medo. Eu estou aqui.
M – Prometes?
H – Claro que prometo. Lembras-te quando nos conhecemos?
M – Isto é diferente. Se eles vierem…
H – Dorme. Não vêm. Não sabem onde estamos.
M – Escuta. Estás a ouvir? (levanta-se e vai à janela) São eles. Tenho a certeza que são eles. (corre a cortina)
H – Vês alguém?
M – Não.
H – Então?
M – Mas vi uma sombra a virar a esquina.
H – Devia ser um cão. Andam por aí alguns.
M – Não! Tenho a certeza que eram eles. Olha, vem ali outra vez. Estou a vê-lo.
(ele levanta-se e corre até à janela)
H – Não te disse? É só alguém a passear o cão.
M – E tu achas mesmo que alguém anda a passear o cão com este frio? A esta hora?
H – Não sei que horas são.
M – Ora, não te faças de parvo! Achas que tens piada? Não levas nada a sério. Tem alguma piada, é? Eu não quero morrer.
H – Não sejas parva. Não nos vai acontecer nada.
M – Também não vinha ninguém atrás de nós e vê bem no que estamos metidos. (começa a andar pelo quarto, exaltada) E dizes tu que gostas de mim? Não levas nada a sério. Não se pode confiar em ti. A culpa é toda tua. Não és homem, não és nada. Nem consegues tomar conta de mim. Não disseste que me protegias?
H – (abraça-a) E protejo. Estou aqui.
M – Nunca ouves o que te digo.
H – Ouço. E por ouvir é que acho que estás a ser parva. Tenta acalmar-te. Tomaste os comprimidos?
M – Tomei.
H – Então acalma-te e vamos dormir. (encaminha-a para a cama) Toma, bebe um pouco de água. Estes nervos. Tens que te controlar. Não é bom. Imaginas coisas.
M – Eu não imagino nada!
H – Sim, eu sei. Mas agora vamos dormir. Estou cansado. Tapa-te, está frio. Vais ficar doente. (deita-se também)
M – Deixa a luz acesa. Tenho medo.
H – Ok, mas dorme. Já é tarde.
Pausa. Dormem
Ouvem-se passos bruscos pela escada e batem à porta.
M – Eu não te disse que eles vinham? (assustada)

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