domingo, 19 de agosto de 2012

Luisinho e Luisão

- Ei, ei! Cuidadinho aí com as voltas. Calma, calma. Devagarinho. Ufa! Até fiquei transpirado. Olá Luisinho isto hoje está uma loucura, ainda venho tonto.
- Olá Luisão. Eu até gosto do disco voador. Não me queixo.
- Não, não, eu não me queixo, este fulano é que não sabe o que faz. Mas conta-me lá, como vai a noite? Quantas rodadas?
- Duas. Esta é a terceira.
- Pois... com vocês, rodas baixas, é diferente. Saem menos. Levam mais tempo na mão dos clientes. Mais um whisky on the lock?
- On the rocks?...
- Sim, sim, isso. On the rocks. Rock and rol mas devagarinho. Já eu... Como é que eu hei-de dizer? Sou mais requisitado pelas miúdas. Sou irresistível. Que é que eu hei-de fazer?
- Sim Luisinho, suponho que sejas.
- Elas gostam de mim. Hihihi. Não me posso queixar. Eu também gosto delas. Olha, olha, aí vem ela outra vez. Ai estes lábios! Até me fazem tremer.
- Estás bem?
- Ai se estou bem. Até fiquei transpirado. Tinha um cheirinho a cereja. Aqueles glosses que elas usam agora.
- Hum, hum...
- Pois. Tu não deves saber como é. A ti só te devem calhar bigodes, não?
- Sim, há alguns bigodes. E daí? Eu gosto. Fazem-me cócegas. E os meus clientes são mais pacientes. Sinto que eles olham mesmo para dentro de mim. Andam comigo às voltas. às vezes até falam comigo. Contam-me como foi o dia. Se discutiram com o chefe ou se a patroa está zangada com eles.
- Ó pá, mas isso deve ser cá uma seca. Sempre os mesmos clientes.
- Mas são certinhos. E com esta crise temos de pensar na segurança. Com tantos sítios novos a abrir há menos clientes. Parece que o que está a dar são clubes escuros com música estranha.
- Oh sim, também ouvi falar desses clubes. São só miúdas a entrar! Quem me dera lá ir.
- Mas contaram-me que eles substituem os copos por copos de plástico porque os miúdos partem tudo na pista de dança. Eu não quero ser aposentado e ir para a um armazém cheio de tralha.
- Pois, fazes bem em preocupar-te amigo mas eu... com a rodagem que eu tenho. Hoje já vou na sétima. Sete! A mim ninguém me pára. Olha, aí vem o tipo outra vez. mais uma rodada, mais uma voltinha no carrossel. É hoje que eu bato o recorde.
- Tchau Luisinho. Gostei de falar contigo.
- Ah!... Agora banhinho. Isso, isso, mais espuma. Lindo! Esfrega mais abaixo. Vá, não sejas tímida, só um bocadinho mais fundo. Aí, aí! Ahhhh! Essas mãos Telma. Depois de passar por sete bocas, só tu é que me fazias isto.
    

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O Pisco do Bosque




    Era uma vez...ou duas ou três,  um pequeno passarinho que voava pelo bosque, todos os dias do mês.
Era dia de conversa, o bosque estava agitado. Num ramo de  pinheiro, o corvo e o gaio , falavam lado a lado. O pequeno passarinho, não parou para falar, bateu as suas asas e continuou a voar.
Era dia de festa, o bosque estava animado. Junto à toca do Esquilo, a Raposa e o Lobo cantavam um fado. O pequeno passarinho, não parou para cantar, bateu as suas asas e continuou a voar.
Era dia de banquete, o bosque estava esfomeado. Na clareira iluminada, os esquilo comia consolado. O pequeno passarinho não parou para petiscar, bateu as suas asas e continuou a voar.
Era dia de brincadeira, o bosque estava cansado. No ninho fofinho, o pisco bebé dormia aconchegado.  O pequeno passarinho não parou para descansar, bateu as suas asas e continuou a voar.

Chegou à casa do João. Poisou no peitoral, bateu com o bico na vidraça e pediu para entrar.
O João alegrou-se,  começou a assobiar, tinha um bom amigo passarinho que o vinha visitar!
O Pisco abriu o bico, e começou a falar: